domingo, 10 de maio de 2015

Linhas Teóricas- Outras linhas de orientação psicanalítica

Complementando a postagem anterior, falarei de outras linhas que são vertentes da psicanálise, porém possuem identidade própria. São linhas muito interessantes, mas conheço apenas o básico sobre elas, então darei uma pincelada em cada uma, como será daqui para frente, uma vez que já escrevi sobre as linhas que domino melhor... mas vamos lá:

Psicologia Analítica: criada por C.G. Jung (1875-1961), psiquiatra e discípulo de Freud. Difere da psicanálise pela introdução de alguns conceitos diferentes, como o inconsciente coletivo, que seria um fenômeno de memórias herdadas que predispõe a organização e funcionamento do psiquismo dentro de um determinado padrão (são aqueles fatos que parecem ser de conhecimento de todos, mas que não se sabe quem ensinou). Jung apreciava muito os símbolos, mitologias e ocultismo, havendo em vários pontos de sua obra uma fusão com estes temas. Os conceitos de arquétipo, tipos psicológicos, persona, sombra, animus-anima entre outros integram esta linha teórica, que versa sobre os vários aspectos da pessoa, seu lado 'luz' e seu lado 'sombra' e como constitui 'personagens' para a sua defesa psíquica. 

Análise Bioenergética (psicossomática ou psicologia corporal): idealizada por Wilhelm Reich (1897-1957), versa sobre a relação entre o corpo físico e o emocional, e como este imprime suas marcas, as chamadas "couraças" nos músculos. Reich também propunha uma análise ampla sobre a busca por poder como base para a neurose e escreveu sobre manipulação de massas, fascismo e outros temas pertinentes a psicologia social (no sentido amplo). Sua obra apresentava conceitos bastante chocantes para a época, como a função do orgasmo para o equilíbrio psíquico e as fontes de energia vital, batizada por ele de "orgone" que seria o elemento que garantiria a saúde física e mental. Nesta modalidade de terapia, além da verbalização, são utilizados exercícios físicos (não são exercícios de academia, mas sim movimentos com objetivos terapêuticos), alongamentos e exercícios respiratórios. São técnicas bem interessantes, mas que devem ser ministradas por profissionais realmente bem preparados para tal.

Há outros nomes que são conhecidos por ser de orientação psicanalítica, como Melanie Klein, que formulou sua teoria focada em crianças, Alfred Adler, que refutava a ênfase sexual de Freud e postulava que o foco do comportamento humano era em busca de poder e notoriedade, John Bowlby, que desenvolveu uma ampla teoria sobre vínculo e apego entre mães e filhos (embora não fosse reconhecido como psicanalista), entre vários outros. Este complemento é a título de informação, realmente bastante breve e superficial, e se alguém quiser saber um pouco mais, fique à vontade para perguntar ;)

sábado, 9 de maio de 2015

Linhas Teóricas- Comportamental e Cognitiva


Depois das explicações básicas sobre a diferença entre psicologia, psiquiatria e psicanálise, vou falar um pouquinho sobre algumas das principais linhas teóricas vigentes nos consultórios de psicoterapia. Essa explicação será bem superficial, cada uma das linhas é uma teoria diferente, formulada sobre preceitos diferentes e num contexto histórico/filosófico específico, o que exigiria um verdadeiro tratado para fazer jus à complexidade de cada uma. Além disso, há a minha limitação pessoal sobre os temas que domino e os que não. Percebi no decorrer da graduação que cada faculdade, em cada parte do país, enfatiza mais ou menos determinados assuntos, e cada aluno buscaria por conta seu aprofundamento na área que tivesse interesse. Foi o que fiz, e isso me deixa plenamente consciente de que há áreas da psicologia sobre as quais tenho pouquíssimo domínio, visto que as duas grandes áreas que escolhi são a saúde e social.

Bem, vamos então às linhas. Vou distribuí-las em algumas postagens, para não gerar textos muito longos, e hoje falarei das linhas comportamental e cognitiva, pois atualmente é difícil falar de uma sem ao menos mencionar a outra. Novamente enfatizo que não há uma linha teórica melhor do que a outra, mas sim aquela que se adapta melhor à cada pessoa, assim como o terapeuta com mais ou menos habilidade para conduzir um processo terapêutico calcado em sua demanda. Como podem ver, são muitas as variáveis em jogo, portanto é importante que as pessoas tenham uma base sobre o que podem encontrar no consultório psicológico. Então, vamos lá:

Comportamental/Behaviorismo: A psicologia comportamental ou o Behaviorismo (ou derivados desses termos, como comportamentalista e behaviorista, que são em geral sinônimos) é a linha sobre a qual eu tenho maior domínio. Foi idealizada por J. B. Watson (1878-1958), por volta de 1913, que iniciou as pesquisas da linha, utilizando principalmente o comportamento animal para desenvolver a teoria e que nos gerou um estigma lascado que carregamos até hoje devido à desconsideração de alguns fatores, tais como comportamentos encobertos e algumas declaraçõezinhas bem 'simpáticas' sobre seus experimentos e elaboração de teoria, como a clássica "Dê-me um punhado de crianças e farei delas do que quiser", entre outras questões, que, embora comuns na época, causam repulsa hoje em dia. A esta base da teoria comportamental, deu-se o nome de Behaviorismo Metodológico. Alguns anos depois, por volta de 1930, B. F. Skinner (1904-1990) elaborou uma teoria muito mais completa sobre os estudos de Watson, a qual é denominada Behaviorismo Radical. A proposta básica desta linha teórica afirma que os comportamentos (o que fazemos, pensamos, sentimos... Tudo é definido como comportamento) é aprendido, partindo de três níveis de seleção: o filogenético, ou seja, o que está inscrito no seu DNA, o ontogenético, ou a sua história de vida e o meio cultural onde o indivíduo está inserido. O processo de aprendizagem acontece de diversas formas, e neste aspecto há pontos de fusão com outras linhas, mas o carro-chefe da psicologia comportamental são os condicionamentos. De forma bem simplista, nos comportamos da maneira que fazemos porque o aprendemos assim. E, da mesma forma, podemos aprender de outra maneira, caso tenhamos aprendido de forma disfuncional. Por exemplo: um indivíduo tem medo de cães. Isso acontece porque, em determinado momento, ele aprendeu que cães lhe ofereciam perigo, e isso se generalizou, sendo que qualquer cão, por menor ou mais inofensivo que seja, desperta um medo extremamente intenso nesse indivíduo. É um caso de fobia específica. Em terapia há técnicas específicas para que esse comportamento- o medo - diminua e até mesmo acabe. Na terapia comportamental não há divã, o paciente/cliente (de novo, discussão enjoada sobre termos a serem utilizados. Eu utilizo paciente, mas há quem prefira cliente. Objetivamente falando, dá na mesma - e já posso ouvir psicólogos me xingando por esta declaração) senta-se de frente para o terapeuta e ambos dialogam de maneira equilibrada; o paciente fala sobre si, o terapeuta operacionaliza o relato, e propõe a intervenção. As críticas sobre esta linha recaem sobre a suposta frieza do terapeuta, o que sinceramente não se sustenta na abordagem, mas sim no estilo pessoal do terapeuta e no estilo diretivo e superficial, que é uma leitura que pode ser feita observando o exemplo que eu dei: há uma queixa, soluciona-se a queixa por meio de instruções, e o paciente vai embora. Porém, esta crítica não se sustenta no momento em que se há compreensão sobre como o processo terapêutico ocorre: o terapeuta comportamental faz um levantamento sobre o histórico vital do paciente e vê o comportamento disfuncional dentro do contexto, e possivelmente encontrará outros pontos. O foco da terapia é conduzir o paciente ao autoconhecimento, a partir do qual ele terá como lidar com suas demandas sozinho, aprendendo a ler suas próprias questões e resolvê-las.

Já a psicologia cognitiva, ciência mais recente, estuda os processos mentais (cognições) por trás do comportamento, tais como memória, pensamento, atenção, raciocínio entre outros. São utilizadas várias metáforas para a explicação destes processos, tais como o funcionamento do cérebro de forma semelhante a de um computador. A diferença primordial é que o cognitivismo entende o pensamento como cognição, e a psicologia comportamental como comportamento. Disso se desdobram muitas implicações e esquemas epistemológicos nos quais as duas linhas discordam entre si, sendo que a base da terapia cognitiva a modificação do pensamento para gerar a mudança do comportamento (e a proposta do behaviorismo, a modificação do comportamento para torná-lo funcional, incluindo o pensamento, que também é comportamento) porém, de maneira geral, as técnicas de cada uma são compatíveis com as da outra, gerando uma interação bastante utilizada e bastante efetiva.

Se o terapeuta se declara cognitivo-comportamental, isso pode significar três coisas: que ele é um psicólogo comportamental que utiliza técnicas cognitivas (meu caso), que é um psicólogo cognitivo que utiliza técnicas comportamentais, ou ainda é alguém que não conhece bem nem uma coisa nem outra, faz uma mistureba tremenda e aplica terapia modelo 'receita de bolo' e cobra caro por isso. Para um leigo, é difícil ver diferença entre eles. Falando sobre os dois primeiros, que são o que se espera que um psicólogo seja, o trabalho de ambos será bem semelhante, o que difere é a base epistemológica por trás da proposta. Caso a pessoa tenha interesse, pergunte ao terapeuta, ele poderá explicar no que seu trabalho é baseado.

Em poucas palavras: a psicologia comportamental e a cognitivo-comportamental se utilizam de interação entre o terapeuta e paciente, costumam ser diretivas após a operacionalização da queixa, e, por isso, objetiva e com duração relativamente breve (quando viável ao caso). Atualmente são as linhas mais indicadas para intervenção psicológica pela psiquiatria.

Até a próxima!